domingo, 24 de julho de 2011

A nova conquista de Genaro.


Genaro se espreguiça. O cheiro dos imbuzeiros lhe afaga a alma. Sente-se feliz em estar de volta ao seu semiárido nordestino. Estava com saudade do seu cantão e de sua gente. A viagem por terras europeias lhe cansara.

Genaro não ficara no bem bom na sua viagem á Europa; isso não combinava com sua maneira inquieta de ser. Famoso no Brasil e também no estrangeiro fora convidado a dar palestras sobre seu envolvimento em causas ambientais e animalescas. Sem falar nos convites para exibições em torneios de artes marciais, nos quais foi grande atração.

Portanto, enquanto Miguelita brilhava nos palcos dos teatros europeus com sua voz de sapa soprano, Genaro vivia sua maratona exibicionista. Simpático, elegante e de boa conversa o jumento agradou a gregos e troianos.

O danado do jegue é mesmo um colosso. Inteligente, fala mais de cinco idiomas. Ninguém sabe como cabe tanta inteligência numa cabeça de um jegue só. Vai ser sortudo assim na casa do chapéu.

Com os dentes a mostra, o jegue bonitão entra na casa de Didão.

O Maestro Cururuzão o abraça feliz, enquanto despacha suas filhinhas, as sapinhas gêmeas Semifusa e Quartifusa para a casa dos avós.

- Se alembrou de nois, jegue ordinário. Pensei que ia ficar nazoropa.

Os amigos dão gargalhadas.

Didão se afasta de Genaro que quase o esmaga.

- Tu se isquece que sou um sapo, mano véio. Um dia desses tu me mataaa. Affe maria!

Genaro sabe que suas demonstrações de carinho são impetuosas demais.

- Didão, meu maestro, sou um jegue exagerado até nos carinhos com os amigos. Esqueço que sou jegue rapaz.

Os dois riem felizes com o reencontro.

- Isso eu sei. Mas, me diga meu irmão, e Miguelita?
- Cantando muito.
- E vocês... estão juntos?

O olhar de Genaro demonstra melancolia.

- Estamos e não estamos.
- Oxe, cumé isso?
- Curuzaço, ela está lá e eu aqui... então, seja o que Deus quiser.
- Genaro, tu é um safado descarado.

O jegue pisca o olho para o amigo que embalança a cabeça diante de tanta molecagem.

- Didão, a culpa é das mulheres. Elas são lindas, encantadoras. E eu não resisto a tanta tentação. Sou movido pela paixão pelo feminino meu sapão.
- Tu já tá enrabichado por outra.

Fala Didão enquanto oferece ao amigo um pedaço de bolo de aipim.

Genaro parece pensativo. Come o bolo calmamente. Didão resmunga.

- E ai, tá ou não tá de caso com outra muié? Aposto que chifrou Miguelita.
-... não, não. Isso eu não faço.Sou honesto com minhas conquistas. Vou dar um tempo com meus casos amorosos. Machuquei muitos corações. Não gosto disso.
- Tu tá falano de Margaridinha, num é?
- Didão, meu irmão querido, é isso mesmo. Margaridinha não merecia. E sabe de uma coisa, aquela jumentinha é meu grande amor.
- Rummm, cabra mentiroso. Tome vergonha nessa tua cara, Genaro. Tu num me ingana.
- Mano veió é verdade sim. Eitá jumentinha meiga. Os seus carinhos estão me fazendo falta. Acho que vou ao Maranhão.

A porta da casa de Didão se abre de supetão. Tácila, a mulher de Didão entra acompanhada de Afinada a passarinha advogada.

Tácila é uma sapa pequena e magrinha. Nas paredes de sua casa veem-se as telas pintadas pela grande pintora cubista. De temperamento agitado se incumbe de acabar com o conversê dos amigos, lembrando-os de seu vernissage que está acontecendo no salão do Clube das Gatinhas Dançantes.

A música árabe se faz ouvir no salão quando Tácila chega com seus convidados. São as Gatinhas Dançantes homenagendo-a com uma apresentação de Dança do ventre.

Uma das gatinhas, de corpo escultural, ondula, mexe as cadeiras. Seus olhos verdes e atraentes se fixam no olhar penetrante e conquistador de Genaro.

O jegue está fascinado.

Didão cutuca-o. No susto o jegue fala.

- Meu irmãoooo.....que coisa mais lindaaaaaa! Eu to apaixonadooooooooo!
- Vai começar tudo de novo veió? E agora é com uma gata? Bom, melhor que sapa. O disparate é menor. Menos mal.

domingo, 10 de julho de 2011

Pai do céu quero ser criança outra vez







Li um texto da escritora maranhense Fátima Oliveira em seu blog. No texto ela escreve sobre o ciclo menstrual das mulheres. A riqueza desse texto me fez achar em meus guardados um texto meu escrito em 2006. Meu texto narra a terrivel realidade de ter me tornado "moça".
Leiam e se divirtam.



Escutei sem querer a conversa de duas adolescentes. Falavam baixinho. Uma delas acabara de menstruar pela primeira vez.

Tratavam com naturalidade do assunto, mas gostariam que a “visitante” demorasse mais um pouco para voltar, um mês passava rápido demais!


Meu pensamento correu longe nesse instante.

Menstruei pela primeira vez com onze anos de idade. Achei péssimo, ainda corria livre pelas ruas, subia em árvores...

E agora, como seria? Chorei muito, era a única da turma das meninas, a ter aquilo!?

Era tudo muito incômodo. Não conseguia me adaptar com o
absorvente. Era grande, inibia meus movimentos e esquentava muito.


Isolei-me um pouco nos primeiros meses. Entretanto, pensei melhor e resolvi aos poucos, voltar ás brincadeiras.

Era um pouco desatenta, acabava sempre me machucando nas galhas de árvores, ou mesmo num simples jogo de pega-pega.

Teria que ser mais cuidadosa acabara de ficar “moça”.

Antigamente quando menstruavamos falavam que tínhamos ficado moça. Sendo assim nossas maneiras teriam que mudar.

Então, desesperada senti no peito a dor que seria dar adeus ao meu mundo infantil tão cedo.

E tudo por causa de uma sangraria desatada que me atrapalhavam as brincadeiras e me impedia de ser criança.

Certo dia brincava de polícia e ladrão quando senti algo não bem definido, molhar minha calcinha. Passei a mão e aflita, envergonhada vi que era sangue.

Pronto, estava perdida. Todos iriam rir de mim. Sentei na calçada desolada.

Os amigos não entendiam porque desistira da brincadeira. Não dei explicação.
Meu rosto se fechou. Minha desilusão era tanta que meus olhos se encheram de lágrimas.

Senti raiva. Droga de menstruação. Quero ser criança outra vez.

Aos poucos a brincadeira acabou. Todos foram embora.

Eu continuei presa á calçada. Ninguém conseguiu me tirar dali. Desconfiada olhei para todas as direções e iniciei uma corrida louca para casa.

Cheguei ofegante e chorosa. Queria morrer. Estava infeliz. Por que Deus não me livrava daquilo?




Leia na integra o texto da escritora Fátima Oliveira no link abaixo: http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com/2011/07/entre-miss-e-toalhinhas-arrematadas-em.html
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