terça-feira, 11 de outubro de 2011

A loba bombeira uiva de paixão por Genaro.







A passarinha advogada Afinada tira os óculos e encara Gatíssima, a gata dançarina, com surpresa.

- Menina, tem certeza que a sua cabeçinha está presa ao seu pescoço? Que maluquice é essa?

Gatíssima tenta se explicar.

- Dona Afinadinha não estou feliz com meu corpo. Vou colocar silicone, fazer uma lipoescultura. Isso vai me deixar mais desejável. E com certeza terei mais chance na carreira artística. Quero brilhar, ser uma grande estrela.

- Não vá estragar o que tu tens. Não vejo necessidade. És tão jovem! Sabias que a lipoaspiração é uma agressão ao corpo de mulher? Tire essa ideia da cabeça, ora essa?

A menina-gata abaixa a cabeça. Sua voz sai melancólica:


- Genaro gosta de mulher peituda e de corpo sem gordurinhas localizadas.

- Como? Não me faça rir. Santa ingenuidade. Tu sabes que Genaro é um mulherengo assumidíssimo. Sendo mulher, meu bem, ele traça qualquer uma.

-....?

- Não quis ofendê-la, queridinha. Tu sabes que sou sincera. E muito me admiro que mexas no teu corpo por causa de Genaro. Não te iludas com o galante jumento. E falando no jegue, é bom que saibas que Miguelita, a sapa soprano, que há pouco tempo era chamego do nosso grande conquistador, está de volta.

Gatíssima sente um frio na barriga acompanhado de um arrepio estranho que incomoda seu coração apaixonado. Não via Genaro há um mês. O jegue se embrenhara com um grupo de voluntários pelas matas brasileiras para ajudar no combate aos incêndios criminosos que dizimavam nossa fauna e flora.

Falando em Genaro...

O jegue de dotes belos e que endoidece as meninas parece mais belo ao sair em meio à fumaça que enfeiam as matas brasileiras.

Ofegante, bebe uma caneca d’água enquanto uma angústia lhe toma o peito.

Tristemente, observa a sua volta o resultado de tanta queimada.

Pouco restou do nosso verde.

Todo ano a desgraceira se repete. Os locais mais afetados este ano são: a região leste do Maranhão e regiões de Tocantins e Cocais.

Segundo informações na mídia, os principais culpados pelos incêndios são os agricultores de todo Brasil, que usam o fogo para preparar suas terras para a criação de gado, e com isso causa vários transtornos para o meio ambiente e para si mesmo.

Sem falar na fuligem incandescente que saem de ônibus e caminhões com seus motores desregulados, e que causam incêndios nas margens das rodovias provocando a morte da vegetação e de motoristas desavisados.

Genaro é um animal bem informado. Sabe dos motivos criminosos que levam as pessoas a cometer tal desatino.

Uma amargura deixa o animal desanimado. Sabe que não pode consertar nem o mundo e nem as pessoas. Sua vontade era de usar a força e dar uma lição em criaturas de corações duros e insensíveis.

Pretim se achega. Só de olhar o amigo sente o que lhe aflige.

A luta de Genaro para sensibilizar as pessoas para que cuidem melhor do Planeta é conhecida. O jegue se sente responsabilizado quando desastres na natureza acontecem. Acha sempre que poderia ter se doando mais as causas ambientais.

Cansado, o jegue balbucia:

- Pretim, não há muito a fazer camarada. Vamos para casa.

Pretim, tenta animar o amigo a todo custo.

- Amigão: missão comprida. Anime-se, seu jegaço safado. Tenho notícias do nosso cantão. Miguelita chegou e deve de ta doidinha para lhe ver.

Genaro arregala os olhos. Por instantes se lembra dos lábios carnudos e vermelhos da sapona cantora. Dá um risinho malandro. Pretim gosta. Enche o amigo de tapinhas enquanto diz as gargalhadas:

- É só falar em mulé que tu se anima todo. Oh, bicho fogoso, acho difícil encontrar neste mundo de meu Deus uma moçoila que lhe apague este fogaréu.

Eis que subitamente uma ventania toma conta do local. Entre a poeirada, fuligem e fumaça surge uma loba guará vestida de bombeira.

Sexy e envolvente, ela se aproxima de Genaro.

O jegue não se mexe. De boca aberta observa aquele monumento.

Ela esfrega sutilmente seu rabo no focinho de Genaro que se derrete.

Pretim se pergunta: “De onde surgiu criatura tão exuberante?”

A loba parece ler seus pensamentos. Chega seu rosto perto de Pretim e sussurra:

- Crioulão, sou a Loba Pantera, chefe das bombeiras do Vale do Caraça em Minas Gerais. Vim buscar seu amigo, ele é a pessoa certa para apagar o fogo que teima em se alastra pelas serras do meu estado.

Quanto Pretim chega ao semiárido nordestino sem Genaro a coisa fica feia. Desajeitado com as palavras entra em contradição e complica a vida amorosa do amigo.

Gatíssima e Miguelita não se conformam. Querem picar em pedacinhos o jegue maldito e gostosão.

Pretim sem jeito sai de fininho deixando as meninas a chorar suas mágoas.

Acha que o amigo deve demorar um pouco mais em sua estada por terras mineiras.

No Caraça uma loba bombeira uiva de paixão.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A ANESTESIA NÃO PEGOUUU!!!


Que dor era aquela que de repente aparece e me domina. Cega-me. Vira-me do avesso querendo acabar comigo.

A cortante, delicerante, afiadíssima , mete-se sem meu consentimento em minha boca e perfura meus dentes, minhas bochechas!

Socorro, meu painho do céu,a realidade da qual fujo me revela: "Mulher,filha de Deus Pai...tu tá com dor em um, dois... ou em todos os dentes! "

Parece dor de quem vai parir.

A miserável é inacreditável, inoperante,indecente.

Vejo-me debaixo da cama. Meu pai procura-me pela casa.

Meus olhos estão inchados da noite mal dormida e do choro incessante devido a mais uma dor de dente.

A menina fugia do dentista como o diabo foge da cruz.

Tinha pavor do amigo de meu pai vestido de branco que sempre tentava me convencer a abrir minha boca e cuidar dos meus dentes de leite.

Escandalosa, não deixava ele me tocar. Debatia-me de tal forma que acabava fugindo daquele monstro de vestes alvas.

Vejo-me na porta do consultório dentário. Não sei nem como cheguei lá.

A dor me trouxera para aquele local sereno e cheio de paz. Com certeza encontraria um monge de vestes brancas a declamar mantras.

Eis que ele surge.

Ás cegas entro em seu templo . Uma cadeira confortável me espera.

Há esperança e há dor. Muita dor. Mais dorrrr.

Com a boca cheia de algodão tento me comunicar com aquele ser zen.

Vi num passe de mágica o ser zen se transformar num ser maquiavélico .

Gelei.

Vi estrelas, cometas, asteróides.

Fui á lua, vi o sol.

Todos os Santos do céu me valhammmmm. A anestesia não pegouuuuuuuuuuuuu!!!!!

Vi a bondade sinistra do amigo de meu pai insistindo para que a menina abrisse a boca.

As gotas de suor se formavam em minha testa.

Morri literalmente.

Suspirei.

Acabou.

Não conseguia sair dali.

Estava em alfa.

Abestadamente fui guiada para fora daquele templo nefasto e sem cor.