quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Morrer no Natal. Será?













Quase fui dessa para melhor. Quase morri!  Oxe,é verdade...

 O coração disparou, um fio finíssimo de não sei o quê me fincou a espinha, o estômago, o corpo inteiro.

 A boca secou, os olhos arregalaram tanto que pensei que iam escapulir do seu globo ocular.

 O corpo endureceu. Estava prontinha para dar  adeus a esta vida ingrata.

Céus, quanto pânico! Como sobrevivi a  tudo isso? Confesso que não sei.

A viagem se prolongou. A estrada parecia não ter fim, e suas curvas também. Olhei o taxímetro  e a velocidade oscilou entre 100 e 140.

Reclamei, me desesperei.

Mas, a criatura , o grande piloto de Formula 1, 2, 3, se fazia de égua.

Os carros que iam a nossa frente, atrás, dos lados...e-v-a-p-o-r-a-r-a-m
.
Não tinha para ninguém, éramos os donos da estrada.

 Rezei, fiz promessas.Clamei  piedade para todos os santos e santas do céu e  da terra.

Comecei a enjoar nas curvas, e  freadas bruscas.  Meu pescoço  ia para frente e para trás numa dança  que me deixou  mariadinha.  Junto ,e afoitamente ia  minha  cabeça que quase se espatifou no para - brisa  embaçado de poeira.

Num lampejo extraordinário, pensei no Natal. Queria chorar de dó de mim. Não teria Natal. Iria para debaixo da terra. Ia ser a ceia de Natal  dos tatus, tamanduás, formigas...

De repente surge uma curva fechadíssima. Gelei. É dessa vez que me vou. Fechei os olhos. Um pensamento me endoidou os miolos. "Ai, quero ser cremada.Sinto total intolerância a locais fechados. Por favor, nada de caixão! Meu Deus acho que estou vendo um túnel.  E essa luz? Nossa, morri ? "

Não me pergunte o que houve depois disso. Fiquei em transe. Travei. Não sabia mais de nada . Comecei a rir e achar tudo lindo.

O carro parou,  finalmente. Fui levada pelos braços do piloto  e colocada em lençóis perfumados.

 Sorri, tranquila. Acho que o Pai do céu ouviu minhas preces. Cheguei ao céu.