Mary Lu foi meu primeiro animal de estimação. Quando a vi nos braços de meu avô fiquei apaixonada. Foi amor a primeira vista.
A cabritinha era um doce. Simpática e barulhenta virou meu brinquedo. E um brinquedo especial que andava, berrava e me fazia muito feliz. Exibi-a como um troféu. Era uma privilegiada, ninguém tinha um brinquedo igual ao meu.
Virei uma chata de galocha. Não dividia Mary Lu com ninguém.
Sentia-me a mãe, dando-lhe mamar numa garrafa de refrigerante com um bicão de borracha que a cabritinha sugava com satisfação.
Aquela fofurinha não tinha uma cor definida . Era rajadinha de preto, branco e marrom. Uma boneca linda. Pior que a tratava como a minha boneca. Enfeitava-a, enchia-a de perfumes e para desespero de minha mãe, vesti-a com meus vestidos.
À noite quando todos dormiam costumava buscar a cabritinha no terreiro para dormir em meu quarto.
Cedinho, o animal acordava a todos com seu béeeeeeeeee insistente.
A recalamação dos meus pais era inevitável.
Ingenuamente, defendia-me das broncas que levava argumentando que a bichinha estava com frio e medo do latido de Arnaldo, um cachorro brutamonte da nossa vizinha, Dona Elfrosina, uma senhora de seus setenta anos, ranzinza e mau humorada.
O que mais incomodou foi o nome que dei a cabritinha. Meus pais insistiam com Lalá, Cacá, nomes fáceis e mais apropriados para bichos.
Eles sabiam da minha admiração pela mulher do mais novo doutor da cidade.
A mulher do tal doutor,uma loura de olhos azuis e corpo cheio das curvas que andava nos trinques a desfilar pela cidade sendo admirada por homens e mulheres, jamais admitiria que seu belo nome fosse dado a uma simples e chinfrim cabritinha.
Dito e feito. A madame se queixou a meus pais, pois me ouviu berrar seu nome quando um dia Maryl Lu resolveu sair desesmbestada pela rua, a tempo de ser atropelada pela rural caindo aos pedaços de seu Zé Meioro que passava a toda velocidade.
Desse dia em diante senti entojo pela loura sarará. Era a mulher passar e eu iniciar um Mary Luuuu que ia abaixando até se tornar um sussurro.Os olhos azuis da nojenta faiscavam. Dei graças a Deus quando a metida a besta se mudou para a Praça Nova, um dos lugares mais lindos da minha cidade.
O negócio é que Mary Lu começou a crescer e ficou complicado cuidar dela já que com oito anos fui obrigada a ir á escola.
Meus olhos se encheram de lágrimas quando vi Mary Lu partir na carroceria do caminhão de meu avô.
A cabrita se foi com um olhar penoso de dar dó .
Abri o bocão inconsolável.
Corri para o quarto e abracei meu travesseiro soluçando.
Não suportava o dia-a-dia sem minha Mary Lu. Os dias seriam silenciosos sem seus bésss.
Da porta do meu quarto meu pai me observava com uma caixa pequena de papelão nas mãos.
Ele se achega de mansinho e a coloca em cima da cama.
Desconfiada, e passando as mãos pelos olhos ainda molhados pelo rio de lágrimas, destampo a caixa.
Três filhotes de coelhos se encolhem na pequena caixa . São dois machos e uma fêmea.
Abro um sorriso.
Em disparada saio porta afora. Minhas colegas fazem um circulo para observar meus novos bichinhos de estimação.
Meu pai espia da janela.
Aceno-lhe mal contendo minha satisfação.
Sabem o nome que escolhi para meus novos filhinhos?
...(suspense e risos)
Como era época da Jovem Guarda nada melhor que Roberto, Erasmo e Wanderléa!