quinta-feira, 30 de junho de 2011

Eu queria ser a Maria Bonita de Lampião








Gostava de ouvir as historias sobre Lampião. O cabra era defensor dos pobres. Deixava ninguém se meter a besta com ele não. Não respeitava autoridades.

Suas intrigas eram resolvidas a bala ou na faca. Fosse qual fosse à situação, Lampião enfrentava com bravura. E tudo com um olho só.

Home valente tava ali, o sertão nordestino agora tinha o seu justiceiro.

Com tantas histórias sobre o Cangaço na minha cabecinha de vento, a destemperada se viu no bando dos Cangaceiros a disputar o lugar de Maria Bonita.

Cheguei me impondo a falar em tom ameaçador que era agora a muié de Lampião. Maria Bonita me enfrentou, quis lutar. Não me intimidei e rolei no chão com a amasiada do chefe do Cangaço.

Foi uma luta de azunhadas e puxamentos de cabelos jamais vista no sertão.

Virgulino só ria. Tava se achando. Afinal de contas duas mulheres lutavam para ficar com ele. Eita homem disputado, vixe!

Com uma de suas facas, o Robin Hood do sertão alisou os cabelos lambuzados de um óleo fedorento que atraia moscas. Cutucou as unhas com um galho fino de árvore. Sabia que não era de boniteza, bonita; mas sabia encher de carinho as muié que lhe chegavam aos braços.

Maria largara a família por sua causa. A mocinha era sobrinha de um de seus coiteiros. Foi ela que lhe amaciou o coração e lhe deu uma filha, Expedita.

As ordens cangacista eram claras: mulher de cangaceiro não lavava, não passava e nem cozinhava. Seu papel era fazer amor jamais guerra. Afazeres domésticos era coisa de macho!

Na surtina lhes digo amigas: “Eitá maravilha”!

Virgulino, olhou com impaciência as mulé que ainda rolavam feito bichos no chão.

Chamou Corisco e pediu que as separasse e lhes desse uma sova, mas uma sova suave, pois em mulher se bate com luva, e depois deixassem as “jovi” por algumas horas ajoelhadas no milho.

- Oxê , grita à arruaceira, intrometida e agora descabelada e suja de pó, a enfrentar olho no olho o capitão e guerreiro cangacista do sertão.

- Tu não vai mandar home nenhum do teu bando me ralar a mão!

Lampião olha aquela menina rechonchuda e desaforada com certa admiração.

Ela o observa. Está desapontada. O guerreiro não era o que esperava. Sente um cheiro esquisto. Seu estômago embrulha.

O homem de um olho só vai sumindo da sua imaginação.

- Eiiiiiiiiii !

A menina leva um susto. Seu pai senta a seu lado. Acariciando-lhe o rosto fala:

- Sonhando mais uma vez com as historias que lhe contaram sobre Lampião? Meu bem conta-se muito sobre a lenda que foi Lampião. Dizem alguns historiadores pesquisadores do assunto que Virgulino foi o primeiro homem do Nordeste a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade. Mas, dizem também que ele foi um criminoso cruel, sanguinário, e aliado de coronéis.

Meu pai vê a desilusão em meus olhos.

Pensativa o abraço.

Na minha cabeça novos sonhos se formam:

“Não quero mais ser Mara Bonita, acho que agora vou ser....ser..., a Jane do Tarzan. Nossa, ele é tão lindo e forte!”

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sandra Bolão e seu noivo Lulinha Cabeção.


Tentava entrar naquela carroça minúscula toda enfeitada de bandeirolas. Parecia mais uma gaiola cujos pombinhos juninos iam para o casório na quadrilha da rua em que moravam.

Vestida de noiva, ajeitei mais uma vez as flores de cores berrantes que enfeitavam minha grinalda cor de carmim.

O vestido rodado de chita branca com estampas em grená e detalhe em rendas brancas, me deixava mais rechonchudinha – o início da puberdade fora um problema para mim. Os hormônios em erupção me deram alguns quilinhos e logo sofri com o infeliz apelido de Bolão que me acompanha, podem crer, até hoje!

Umas ceroulas quadriculadas completavam o meu traje de noiva jeca.

Era na verdade uma caricatura de noiva. Uma verdadeira piada.

A boca de um vermelho vivo competia com minhas bochechas.

As sandálias brancas ostentavam meias arrastão pratas, purpurinadas. Vi-me uma autêntica alegoria carnavalesca criada por Joãosinho Trinta.

Deram-me o nome de Chifrionésia ,a noiva chifruda que, loucamente apaixonada se contentava com seu destino de besta de carteirinha.

Sempre desejei ser noiva de quadrilha. Gostava de me “amostrar”. Era mesmo a exibida da Avenida Salvador, lá em Senhor de Bonfim.

Com um corpo já a detalhar a mulher que viria - embora gordinha, a pré-adolescente já se achava “uma moça”!

Metida, não gostou nada da escolha do noivo; um certo tampa de “binga”, assanhado e que possuía uma cabecinha um tanto grande para o tamanho do corpo.

O apelido do pequeno noivo não podia ser outro: Chamava-o de Lulinha Cabeção .E para desgosto da noiva logo foi criado o slogan da quadrilha: “Venham todos apreciam o casório de Lulinha Cabeção com a sua noiva Sandra Bolão”.


A noiva caricata já conhecia seu pretendente a marido de longa data. Eram companheiros nas brincadeiras infantis. Lulinha, sempre arranjava um jeitinho de ficar perto da menina que se sentia moça, nas brincadeiras. Tinha por ela uma grande simpatia.

Ela até que gostava do amigo, mas achava-o pirralho e bobo demais. Os dois tinham a mesma idade, mas o danado do Cabeção não amadurecia. E isso irritava e cansava a menina que já era moça!

Lulinha usava um terno xadrez cor de rosa. Na cabeciiiiinhaaa um chapelão maior que seu tamanho e que o tamanho da sua cabeça! Mal dava para ver o rosto do noivinho que teimava em abraçar a sua futura esposa, que a todo tempo se esquivava dos abraços calorosos de seu noivo enamorado.

Todos sabem que na pré adolescência acontecem modificações nos corpos infantis como um todo. Os hormônios além de nos engordarem fazem uma confusão danada com os neurônios. A meninada sofre horrores com a perda do seu mundinho lúdico e feliz.

Ao final do casamento de mentirinha me livrei do noivo indesejado, e com ares de paquerador.

Acreditam que o danado teve a ousadia de me pedir em namoro?

Nunquinha que iria deixar as despeitadas das minhas colegas se aproveitarem da nova situação para jocosamente me chamarem de Bolão, a namorada do Cabeção.

domingo, 12 de junho de 2011

Pretim,o jegue tição brilha no cortejo dos noivos na festa de São João em Senhor do Bonfim






Cavalão, o jumento Pega, está inquieto e não consegue atinar para o que seus ouvidos escutam de seus companheiros.

Resmunga, esbraveja, sente-se traído.

O seu sonho de substituir Genaro no cortejo dos noivos na festa junina em Senhor do Bonfim – Bahia foi pelo ralo. Sente raiva de Genaro. O jegue bonitão aprontara. Foi-se com Miguelita, a sapa soprano pela qual se apaixonara, em turnê pelo mundo afora. E deixara por escrito seu desejo de ver Pretim como seu substituto em evento tão importante.

- Logo Pretim?- reclama irritado Cavalão - Genteeee, o jegue é preto que nem tição, feio de dar medo. Genaro ficou doido. O frunduço está armado. Os ânimos se exaltam. Cavalão, magoado bate na mesa e pede atenção.

- Num vamo obedecê as vontade de Genaro. Ta bom que ele teve boa intenção, mas agora é minha vez. Eu vou ser o jegue que conduzirá os noivo em Senhor do Bonfim. Olhem para meu porte, pensem no de Pretim? É um raquìtico. Num tem cabimento. O pobre diacho num pode competir comigo, que sou em jumento Pega.

Um barulho ensurdecedor toma conta do local. Cavalão pede silencio.

-Outra coisa que num intendo. Todos sabemo das infelicidades do jegue tição. Com a morte dos pais o pobre desabou de vez. Ficou triste, deprimido. Falam por ai que até os miolos do jegue se afrouxou. Soube tombém que o pobre coitado foi passar uma temporada com o burrico albino e monge, Zé das Almas dos Espíritos que se Foram pra vê se miorava do seu desassossego.

Didão, o sapo maestro, entra no recinto acompanhado da passarinha Miúda Afinada, advogada, amiga e confidente de Pretim.

Os olhares se voltam para os dois. Afinada , a passarinha Miúda Afinada,pede a palavra.

- Vocês me envergonham. No quê vocês são melhores que Pretim? Seus preconceituosos de uma figa. Ah ,muito mais: racistas de uma figa!

Os jegues se entreolham. Cavalão interpela prepotente.

- Adevogada Afinadíssima, aqui é uma reunião de jegues. A madama devia de procurar sua turma. E quer saber? Pretim Tição é feio, pobre, desmilinguido, desprovido de qualquer atrativo belo que o faça melhor condutor dos noivo em Senhor do Bonfim. E tenho dito.

Miúda Afinada sente seu sangue ferver. Suas asas se abrem, seu bico se prepara para o ataque. Cavalão ri e espera para dar um destino final á passarinha abelhuda.

Didão, percebendo a intenção da defensora de Pretim, a interpela a tempo de evitar uma desgraça.

-Afinadíssima, se acalme. Olha pra ti, e olha para cavalão! Quer ser dilacerada, amassada, triturada?

Afinada engole seco. Dá uma revoada na cabeça de Cavalão, provocando-o. O jegaço se esquiva e fala raivoso:

- Eitá, tu tá me arreliando. Lugar de muié é no tanque, na beirada do fogão. Vai-te daqui Miudeza metida a besta.

Didão mais uma vez tenta acalmar os nervos da advogada destemida. A espevitada passarinha não se intimida e enfrenta Cavalão.

- Senhor, jegue-cavalo, tenho nojo da vossa pessoa. Pensei que os bichos fossem unidos, que se respeitassem e aceitassem o outro como ele é. Mera ilusão. Infelizmente a discriminação e preconceito eo racismo já empestearam a Terra. Mas vão ter de acbar! Agora, moço dos atributos físicos avantajados, para mim tu não vale o chão que Pretim pisa. E se meu lugar é no tanque, fogão, o teu é atrás das grades.

Diante daquelas palavras os jegues abaixam a cabeça. Cavalão se cala. Sabe que fora longe demais. Tenta de toda maneira se desculpar e aceita o que a passarinha advogada inteligente lhe propõe:

- Senhor jegue, que quer ser cavalo, livrarei o senhor da prisão com uma condição: ... tu será o cuidador de Pretim.Acompanhará meu amigo a Senhor do Bonfim e cuidará muito bem dele. Um detalhe: eu irei também para observar o vosso trabalho.

Pretim desfila pelas ruas de Senhor do Bonfim distribuindo simpatia e alegria. O jegue está radiante. O tempo que passara com o monge Zé das Almas dos Espíritos lhe fizera um bem danado. Sente-se renovado.

Afinada e Didão, admiram-se com o desempenho de Pretim. Não esperavam tanta saliência. O jegue outrora acanhado e triste, agora requebra, mostra os dentes e pisca o olho para a burrica que leva o padre para o casório.

Abraçado á Miguelita, Genaro sorri. Sabe que fizera a coisa certa. A seu pedido, monge Zé, com certeza dera uma boa recauchutada na alma de Pretim. Com isso recuperara a autoestima do jegue e o transformara na grande estrela do cortejo dos noivos na cidade do melhor São João do Brasil.























quinta-feira, 9 de junho de 2011

Virei uma Maria Mijona em plena noite do Dia dos Namorados.


Ai, dia dos namorados. Que data romântica! (suspiros) O vai e vem nas lojas para comprar algo especial. Cartões com dizeres apaixonados. Demonstrações de eterno amor com flores, jantares, viagens deslumbrantes

Em meio a esse tumulto me vi num jantar á luz de velas. Uma voz macia cantava canções da nossa MPB.

Cantarolávamos em meio a copos de vinhos, músicas que relembravam nosso namoro na Bahia.

O mineirim "desconfiado" conquistou meu coração. Foi de mansinho se achegando e ganhou meu total apreço. Bão dimais, sô!

Mineiro é bom na arte da conquista.São dedicados e fiés namorado - até que provem o contrário. Nós que não fiquemos espertas.Tenhamos sempre um olho fechado e o outro bem arregalado.

Meus irmãozinhos amados, diziam, que os mineirm são tudo come quietos e sonsos. Com um braço nos abraça e com o outro faz sinal para as mocinhas assanhadas.

Só sei de uma coisa. Homem é tudo igual, não resiste ao cheiro da mulher .

E nós, claro , com tal previlégio, amansamos o âmago voluptuoso desses seres machos.

Lá pela madrugada e rindo demais. Ops, uma pequena observação:Nós tomamos duas garrafas de vinho, logo é comprrensível o excesso de risos.

Uma perguntinha ao pé do ouvido : Por que quando bebemos um tiquinho a mais ficamos tão abestados?

Abestados nada, levemente felizes, prontos para o que der e vier. Nesse momento a vida é incrivelmente bela e apaixonante.

Nessa empolgante felicidade,subimos a rua para irmos para casa, quando a figura aqui, a sem noção, para de repente e cruza as pernas afoitamente. Meu corpo sacudia todinho. Não conseguia conter as gargalhadas.

O maridão havia me sussurrado algo picante ao ouvido.

Arrepiei minha gente. Eitá mineirim, safado! Adorei.

Rindo muito, e saboreando ainda as palavras do maridão me vi em uma situação embaraçosa.

Não conseguia crer? Fiquei quieta, enquanto uma poça de de água brotava de mim.

O liquído quente me escorria pelas pernas e encharcavam as lindas botas longas, pretas, de couro, presente do maridão, que enfeitava meu visual tão bem escolhido para data tão especial.

Virei uma Maria Mijona em plena noite dos namorados.

Detalhe; até a lua se escondeu, envergonhada, de tamanho deslize.

O maridão, eterno namorado, não fez como a lua. Romanticamente. tirou minhas botas e me abraçou com carinho. ( rimou)

Que final de noite inesquecível, não acham?