sábado, 31 de março de 2012

Festa Brega (para meu marido Braz).




Adentrei toda faceira. Olhava para os cantos a procura dos meus encanto. O peste do mineirim não tinha dado as caras. Onde será que o safado do come quieto tinha se metido? Ele bem sabe da minha mansidão, mas quando me "reto" fico tão destemperada que não tem santo do céu que me acalme os nervos.

Não suporto esperar ninguém, muito menos homem . Daqui a pouco a banda começa a tocar as músicas de Waldick, Reginaldo Rossi, Wando, e eu que não sou besta logo arranjarei um par para esquentar meu esqueleto no salão.

Antes, porém, vou retocar a maquiagem. Meu batom vermelhíssimo tem que aparecer ainda mais. E por falar em aparecida...

Nunca vi pessoa tão exagerada. Além de carregar na maquiagem, borrifei-me de Cashmere Bouquet . Até euzinha não to me aguentando de tão perfumosa que fiquei.

Imaginem como isso ficará depois de uma suadeira. Vou espantar meio mundo. Vixe, danou-seee!

Apressei-me nos retoques da maquiagem . Dei uma última olhada no espelho e ajeitei o vestido justo que teimava em subir além do necessário.

A banda inicia seu show com a música "Moça" do cantor Wando.

Acompanho a canção que foi sucesso em todo Brasil.

Levanto as mãos e suavemente balanço meu corpo no compasso da música.

Subitamente a luz negra me faz enxergar o aro branco de um óculos enorme que inquieto perambula pelo salão.

Vou me achegando. O forte cheiro de brilhantina me deixa tonta. A criatura se vira e me dá um pisão . Vou com tudo para cima do infeliz mal - educado.

Com um sorriso amarelo o desgramento do homem me dá um cheiro no cangote.

Credo em cruz, valei-me Nossa Senhorinha do céu e da terra também, é o meu mineirim todo engomado, e lindo de morrer!

A banda acertadamente toca uma melodia apaixonada:

"Hoje que a noite está calma
E que minh'alma esperava por ti
Apareceste afinal
Torturando este ser que te adora
Volta fica comigo
Só mais uma noite
Quero viver junto a ti
Volta meu amor "

Agarro meu homem de jeito e lhe lasco um beijo apaixonado. De rostinhos colados vamos para o salão.

Bem baixinho em meu ouvido ele me diz:

- Vamos sair daqui minha flor de mandacaru, minha flor de ipê que enfeita as montanhas das Minas Gerais. Acho que nossa noite vai ser longa e de muito amor trenzim bão de minha vida.

Arrepiei-me. Meu coraçõe batia descompassadamente! Fiquei molenga de tanta felicidade.

Derreti-me interinha com as palavras do meu pãozinho de queijo com angu e pimenta.

Misericordia meu povo! Ohhhh, minerim bão de serviço. Sou arriada por ele, visse?

sexta-feira, 30 de março de 2012

Homenagem de Beto Góes.



Recebi de presente esse texto carinhoso de meu amigo e conterrâneo Beto Góes. É com alegria que o compartilho com vocês que acompanham meu blog.



Amigas e amigos:

O texto é uma homenagem a uma conterrânea amiga, blogueira, e artista polivalente, que integra este nosso grupo ( grupobonfim).
Abraços



Cantinho nordestino



Onde estará localizado? Em Sergipe ou na Terra de Iracema,

Em Pernambuco ou na Terra dos Marechais?

Talvez na bela ex-primeira capital do Brasil, a Bahia...

Nada disto... Está nas Minas Gerais, justo em Ouro Branco,

Região Centro-oeste do Brasil, onde acontece esta narrativa.

E é pra lá que iremos agora mesmo... já, já... Vem comigo...

Entremos, pois, no supersônico que nos conduzirá.

Acomodados cá estamos... Pronto... chegamos.

O táxi veloz nos conduz a uma aconchegante residência

Com seu jardim acolhedor, pronto a distribuir amor.

- Ô de casa!

- Quem tá aí?

- É de paz, conterrânea.

O portão se abre. Adentramos...

Logo percebemos um gramado, arbustos baixos e floridos,

Vasos de barro plantados... Tudo estava bem cuidado.

Pedras esparsas estão ali... Pedriscos de mármore branco

Bem compactos, lembram um tapete imponente.

Mandacarus estão presentes com os seus caules resistentes.

Destacando-se está o Genaro, jumento pêga... Que pedigree!

Namorador que só um danado, é o gostosão daquele espaço.

Sua utilidade é bem servir de montaria sem igual

Aos donos daquela casa. Ah! Que delícia de sina!

Tem também outro jegue que atende por Pretim, o Tição.

Pé-duro, mas com muita disposição para o trabalho.

Cabe-lhe bem transportar nos seus caçuás tão limpinhos

Toda a produção cultural daquela casa para o sítio Vixe Mainha.

Outros animais estão a caminho daquele pedaço de chão.

São eles: Bombeira, uma loba-guará de pelo sedoso e castanho

E a sapa Miguelita, a soprano do grupo, mas de coaxar moderado.

Chegará de braço dado com o maridão, o sapo cururu Didão,

Um maestro de causar inveja, respeitado em toda aquela região.

Afinada – a passarinha advogada - é um caso à parte, bem singular;

Chega com a aurora, pousa nas árvores e canta... canta e canta.

Cumprida sua nobre missão parte para alegrar outros cidadãos.

Teriam lugar naquele cantinho o galo Josezinho e o peru Pimpão.

Mas barulhentos como são, incompatíveis seriam com Bombeira,

Cuja dieta predileta são os saborosos e inofensivos galináceos.

Agora, o xodó daquele cantinho será mesmo a brejeira Mary Lu;

Uma cabra de pelo malhado e de verdes olhos. Linda, a bichinha!

Vacona Fogosa, uma vaca nelore, branquinha e rechonchuda,

Passista de escola de samba, era a grande paixão de Genaro.

Até que poderia integrar o plantel do cantinho nordestino,

Mas, pelo seu porte avantajado, o espaço não lhe é apropriado.

Pelo mesmo motivo impeditivo da vacona,

Ficou de fora o Tourão de Oxum, um animal zebuíno,

Requisitado babalorixá, pai da dengosa Vaca Fogosa,

Que triste ficou com a sua preterição. Mas, fazer o que

Se o espaço não comporta os dois bovinos grandalhões?

Para encerrar, chegou a vez de Gatíssima, a gata dançarina,

Par nos ensaios da dança do ventre e da quadrilha junina

Daquela que, mesmo distante, não esqueceu as suas raízes.

Daí, criou, administra e zela com todo carinho

Daquele amado cantinho nordestino em terra das Alterosas,

Uma bonfinense arretadamente morena, ela que é a Sanbahia.


Beto Góes

27/03/2012

terça-feira, 6 de março de 2012

Genaro : o galante mascarado







Genaro veste sua fantasia de marajá. Ri satisfeito diante do espelho. Tácita, a sapinha pintora , mulher de Didão, o sapo curururu maestro , ajeita o turbante dourado na cabeça do jegue bonitão que se estufa todo se achando belo e irresistível.

Pensamentos calorosos tomam conta da mente do jegue conquistador. Sabe que a mulherada não irá resistir. Todas brigarão por ele.

Difícil escolher diante de tantas belezuras com corpos á mostra. Quer todas. Mas, precisa ter cautela. Mesmo sendo Carnaval não quer magoar a essência feminina tão suave e sensível.

Fecha os olhos imaginando-se cercado por belas pernas, bocas vermelhas e perfumes estonteantes.

As sapinhas gêmeas, filhas de Tácita e Didão, vestidas de havaianas entram em algazarra tirando Genaro de sua súbita viagem ao seu harém fantasioso.

Com suas vozes infantis falam:
- Vamos mamãeeee, o Carnaval já começou. A banda do papai tá tocando na praça.

Todos saem, menos Genaro. Quer que sua entrada na praça seja triunfal. Afinal de contas é o marajá , aquele que arrebenta corações e faz moçoilas suspirarem.

Perfuma-se, faz exercícios. Ensaia passos. Toma um gole de energizante.

A música invade a casa de seu amigo maestro cururu.O animal narcisista cantarola alegremente. Olha-se mais uma vez no espelho e sai finalmente.

Pretim, o jegue tição, vai ao encontro do amigo.

Está atordoado e ansioso. Genaro se surpreende, olha-o interrogativo.
- Pretim meu velho, o que foi que aconteceu? Parece que viu assombração!?

Pretim respira longamente e responde:
- Meu amigo, a mulherada que tu andou dando uns “pega” tão tudo ai.

Genaro corrigi Pretim:
- Não se diz assim , Pretim. Mulher não se pega se conquista.

O outro gagueja:
- M..as...como tu v..ai fazê ?

O marajá-jegue pensa, pensa e pensa. Uma ideia brilhante lhe veem a mente. Cochicha com Pretim que fica perplexo. Os dois saem apressados.

A banda do Maestro Didão anima a praça. Os foliões cantam, brincam.

Tácita sente-se aliviada. Ainda bem que Pretim fora avisar a Genaro da presença inusitada de suas enamoradas.

Não entende como todas resolveram aparecer em pleno Carnaval?

Indaga-se: “Gatíssima fora para o Marrocos se aperfeiçoar em dança oriental e chegara inesperadamente. A loba bombeira e mineira deveria passar o Carnaval na bela cidade de Ouro Preto e não se embrenhar no sertão nordestino, seco e quente sem os atrativos da linda cidade histórica”.

“O que dizer da famosa sapa soprano, Miguelita que cancelou seus recitais na Europa” ?

“E da fogosa vacona, passista famosa de escola de samba do Rio de Janeiro”?

“Realmente não dá para entender. O jegue nordestino possui mesmo algo especial que faz a mulherada não medir esforços para estar ao seu lado’’.

Um murmurinho repentino se faz ouvir.

A figura máscula do mascarado vestido de negro chama a atenção dos presentes.

Seus pés iniciam passos flamenco. Seus olhos verdes, sedutores olham em volta. A mulherada suspira, vão até ele. Astuto e delicado abraça suas meninas envolvendo-as em sua dança bonita e sensual.

Miguelita com seus lábios vermelhos lasca-lhe um beijo. Gatíssima ondula seu corpo para chamar-lhe atenção. A loba uiva apaixonada.Vacona rebola exageradamente.

Pretim vestido de marajá observa maravilhado. Tácita sussurra-lhe:
- Pretim, o que você e Genaro andaram aprontando? Não me enrola, desenbucha.

Os dois se afastam da fuzarca.

O jegue tição se enrola. A sapa pintora insiste.
- Dona sapa pintora, é carnaval, deixe isso para lá, deixe meu amigo se adivertir. Oiá , Genaro queria agradá suas muié ,o jeito foi virá mascarado.
- E a fantasia, como ele conseguiu?
- Nóis cortou uns panos preto que tava numa mala véia embaixo de vossa cama.
- O quê? Minhas sedas importadas! Como se atreveram?
- Dona das arte, Genaro vai acertá tudinho com vosmecê, num se preocupe. Agora me dê licença, pois o marajá vai entrá em ação.
- Eiiiii, espere...e aqueles olhos verdes?

Já saindo de fininho o marajá-tição responde:
- Dona sapinha,muié de seu Didão, são lente que põe nos zoio, as tais coloridas...rsrsrs, Genaro tem de tudo...eitá jegue inteligente!

É quarta-feira de cinzas, o monge-jegue, Zé das Almas dos Espírito que já se foram pede mais atenção aos amigos que sonolentos mal conseguem se manter em pé.

- Genaro e Pretim, todos esses dias eu os acolhi em meu mosteiro para nosso retiro espiritual. A muito custo compreendi o sumiço dos dois á noite, e as constantes cochilhadas durante o dia. Mas, conforme as regras do nosso retiro , vocês meditarão e recitarão mantras até o final de semana. Assim, encherão seus corpos físicos e espirituais de paz e luz.

Didão senta-se próximo a mulher. Enrola um cigarro de palha enquanto solta uma sonora gargalhada.

Tácita ri também. Sabe que o motivo é Genaro e suas maluquices.

- Minha esposa- diz o cururu maestro soltando uma longa baforada- será se as meninas de Genaro acreditaram em seu sumiço repentino?
- Se acreditaram ,meu velho, não sei, mas que estão louquinhas pelo mascarado misterioso isso elas estão!

Didão embalança o corpo de cururu gordo de tanto que ri.
- Eitá Genaro safado, rsrsrs!