domingo, 12 de junho de 2011

Pretim,o jegue tição brilha no cortejo dos noivos na festa de São João em Senhor do Bonfim






Cavalão, o jumento Pega, está inquieto e não consegue atinar para o que seus ouvidos escutam de seus companheiros.

Resmunga, esbraveja, sente-se traído.

O seu sonho de substituir Genaro no cortejo dos noivos na festa junina em Senhor do Bonfim – Bahia foi pelo ralo. Sente raiva de Genaro. O jegue bonitão aprontara. Foi-se com Miguelita, a sapa soprano pela qual se apaixonara, em turnê pelo mundo afora. E deixara por escrito seu desejo de ver Pretim como seu substituto em evento tão importante.

- Logo Pretim?- reclama irritado Cavalão - Genteeee, o jegue é preto que nem tição, feio de dar medo. Genaro ficou doido. O frunduço está armado. Os ânimos se exaltam. Cavalão, magoado bate na mesa e pede atenção.

- Num vamo obedecê as vontade de Genaro. Ta bom que ele teve boa intenção, mas agora é minha vez. Eu vou ser o jegue que conduzirá os noivo em Senhor do Bonfim. Olhem para meu porte, pensem no de Pretim? É um raquìtico. Num tem cabimento. O pobre diacho num pode competir comigo, que sou em jumento Pega.

Um barulho ensurdecedor toma conta do local. Cavalão pede silencio.

-Outra coisa que num intendo. Todos sabemo das infelicidades do jegue tição. Com a morte dos pais o pobre desabou de vez. Ficou triste, deprimido. Falam por ai que até os miolos do jegue se afrouxou. Soube tombém que o pobre coitado foi passar uma temporada com o burrico albino e monge, Zé das Almas dos Espíritos que se Foram pra vê se miorava do seu desassossego.

Didão, o sapo maestro, entra no recinto acompanhado da passarinha Miúda Afinada, advogada, amiga e confidente de Pretim.

Os olhares se voltam para os dois. Afinada , a passarinha Miúda Afinada,pede a palavra.

- Vocês me envergonham. No quê vocês são melhores que Pretim? Seus preconceituosos de uma figa. Ah ,muito mais: racistas de uma figa!

Os jegues se entreolham. Cavalão interpela prepotente.

- Adevogada Afinadíssima, aqui é uma reunião de jegues. A madama devia de procurar sua turma. E quer saber? Pretim Tição é feio, pobre, desmilinguido, desprovido de qualquer atrativo belo que o faça melhor condutor dos noivo em Senhor do Bonfim. E tenho dito.

Miúda Afinada sente seu sangue ferver. Suas asas se abrem, seu bico se prepara para o ataque. Cavalão ri e espera para dar um destino final á passarinha abelhuda.

Didão, percebendo a intenção da defensora de Pretim, a interpela a tempo de evitar uma desgraça.

-Afinadíssima, se acalme. Olha pra ti, e olha para cavalão! Quer ser dilacerada, amassada, triturada?

Afinada engole seco. Dá uma revoada na cabeça de Cavalão, provocando-o. O jegaço se esquiva e fala raivoso:

- Eitá, tu tá me arreliando. Lugar de muié é no tanque, na beirada do fogão. Vai-te daqui Miudeza metida a besta.

Didão mais uma vez tenta acalmar os nervos da advogada destemida. A espevitada passarinha não se intimida e enfrenta Cavalão.

- Senhor, jegue-cavalo, tenho nojo da vossa pessoa. Pensei que os bichos fossem unidos, que se respeitassem e aceitassem o outro como ele é. Mera ilusão. Infelizmente a discriminação e preconceito eo racismo já empestearam a Terra. Mas vão ter de acbar! Agora, moço dos atributos físicos avantajados, para mim tu não vale o chão que Pretim pisa. E se meu lugar é no tanque, fogão, o teu é atrás das grades.

Diante daquelas palavras os jegues abaixam a cabeça. Cavalão se cala. Sabe que fora longe demais. Tenta de toda maneira se desculpar e aceita o que a passarinha advogada inteligente lhe propõe:

- Senhor jegue, que quer ser cavalo, livrarei o senhor da prisão com uma condição: ... tu será o cuidador de Pretim.Acompanhará meu amigo a Senhor do Bonfim e cuidará muito bem dele. Um detalhe: eu irei também para observar o vosso trabalho.

Pretim desfila pelas ruas de Senhor do Bonfim distribuindo simpatia e alegria. O jegue está radiante. O tempo que passara com o monge Zé das Almas dos Espíritos lhe fizera um bem danado. Sente-se renovado.

Afinada e Didão, admiram-se com o desempenho de Pretim. Não esperavam tanta saliência. O jegue outrora acanhado e triste, agora requebra, mostra os dentes e pisca o olho para a burrica que leva o padre para o casório.

Abraçado á Miguelita, Genaro sorri. Sabe que fizera a coisa certa. A seu pedido, monge Zé, com certeza dera uma boa recauchutada na alma de Pretim. Com isso recuperara a autoestima do jegue e o transformara na grande estrela do cortejo dos noivos na cidade do melhor São João do Brasil.























Um comentário:

Valberto Góes disse...

Sandra:
Este é mais um texto de bom gosto que se reporta às coisas do São João da nossa "terrinha" querida.
Já encarnei o papel de pai da noiva num casamento matuto, cuja foto está no meu Orkut.
Parabéns, mais uma vez, amiga e conterrânea.
Abração