terça-feira, 31 de maio de 2011

A galinha



Quando estava no Jardim da infância há alguns anos atrás - e poe anos nisso - era constantemente requisitada para os famosos teatrinhos da escola.

Festejava-se dia disto e daquilo, obedecendo rigorosamente o calendário letivo. Diante disso, nós, os artistas mirins, éramos alvos das mais incríveis representações.

Digo-lhes isso com toda razão de causa. Pois, numa dessas representações tive a agradável surpresa de ser convidada para encenar uma linda peça de teatro na responsabilidade do papel principal.

Sentia-me, claro, radiante. Uma verdadeira Shirley Temple.Todavia, a alegria deu lugar à decepção quando me disseram qual seria o tal papel.

Acreditem, iria representar uma g-a-l-i-n-h-a.

Fiquei emburrada durante alguns dias. Não me agradava a idéia de ser, mesmo de mentirinha, uma galinha. Pensava no mico, é óbvio.

Porém, em criança tudo é muito engraçadinho, bonitinho.

Diante de tantos “inhos”, e a insistência carinhosa das “tias”, - tanta insistência não era á toa. Afinal a idéia da personagem não era aprazível para nenhuma criança - desarmei-me e disse sim ao desastroso papel.

Chega o grande dia. Pais e familiares lotam o teatro da escola. A ansiedade das professoras para que tudo saia maravilhoso é sinal de apreensão para mim.

Além de não gostar nem um pouco da personagem, irritava-me intensamente a sua fantasia. Feita de espuma com penas e bicos desproporcionais, assemelhava-se a uma grotesca caricatura de aves diversas.

Uns achavam que era pata, ema. Outros arara, seriema.

A esta altura dos acontecimentos não me agradava nem um pouco aquelas comparações.

Entretanto, não poderia mais voltar atrás, teria que enfrentar a minha fatídica e lastimável situação.

E foi com o coração doído que vesti a horrível fantasia!

Consequentemente a tudo isso, tinha ainda contra mim - acreditem, a minha aparência!

Devido a minha grande exposição ao sol tórrido do sertão, chamavam-me carinhosamente de "pretinha”.

Pois bem, quando entro em cena uma voz fina de criança se faz ouvir no teatro em silêncio: “ Oxe mainha, que bicho esquisito? Parece um urubu!?"

Claro que não teve mais peça nenhuma. Ali mesmo me despi da galinha ou urubu que desapontaram meus sonhos de grande artista mirim.

sábado, 7 de maio de 2011

Cheiro de Mãe




O tempo realmente é nosso melhor aliado. Nada como deixá-lo seguir. Não somos suficientemente sábios para detê-lo, não é mesmo?

Então, que ele leve embora todos os sentimentos contrários a nossa felicidade. Essa felicidade doada por Deus, aquém aos valores frívolos, manifestados por atitudes inferiores das quais se apegam o nosso ser.

Pensando nisso vejo claramente meus olhos de criança cheios de interrogações naquele dia em que não mais encontrei minha mãe em casa.

Tudo parecia estranho demais! O teto sumira como por encanto. As cores desbotaram, e o meu coração, confuso, recolhia - se ao silêncio.

Esse silêncio deu lugar a anos de saudades.

Desesperador, contudo, foi quando acordei certa vez e não consegui lembrar o rosto de minha mãe.

Nesse dia o meu coração chorou.

Só que Deus na sua misericórdia me deixara um presente maior que superara toda essa falha de memória. ELE, o nosso Pai Maior, não deixara que eu me esquecesse do cheiro da minha mãe.

Alimentando-me desse cheiro, superei a perda física do colo materno sem mágoas, ressentimentos, nem dor.

Nosso reencontro físico depois de tantos anos foi algo mágico. Sentimos que apesar dos anos nós continuávamos amorosamente unidas.

Os acontecimentos desagradáveis não conseguiram separar os nossos corações.

O passado, suas causas, não faz parte do nosso presente. O que importa é a felicidade que o Pai do Céu nos proporciona.

Outro dia ao telefone minha mãe me confidenciou: “Filha, não tenho mais tantas angústias na minha vida. Sabe por quê? Porque o som de sua voz faz com que minhas angústias desapareçam, e eu consiga ser feliz outra vez”.

Veja só minhas amigas, minha voz faz minha mãe feliz! Isso não tem preço.

A explicação está apenas no Amor.

Lembro-me do seu cheiro. Ele é inexplicável.

Pois é mainha, esse cheiro inexplicável é que embala a minha vida e mantém você viva dentro de mim!

Eu amo você mainha!

Feliz dia das mães a você, e a todas as mães do Planeta Terra!

A filha,

Sandra.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Genaro e Miguelita , com amor tudo é possível.




Miguelita Vicenza passa com cuidado o batom nos lábios . Escolheu a cor vermelha para realçar mais ainda os lábios grandes , largos ,seu grande objeto de desejo masculino. Sente-se irresistível.




Borrifa um perfume francês intenso e estonteante.Ajeita o corpo robusto. Feliz, entoa uma canção napolitana.




Sua voz de soprano enche a mata caatinguista.




Genaro saboreia mais um copo de suco de jenipapo depois de mais uma sessão de musculação. Os músculos do jegue bonitão sobressaem . O gostosão assumido se empina, ri . Seu ser narciso, sente-se satisfeito.




O jegue é viciado em esportes. Já participou de maratonas, escalou montanhas, e foi recentemente campeão de jiu jitson e capoeira.


Impressionante à disposição do jegue vencedor do BBB. Nunca vi dar conta de tantos afazeres. Principalmente aos que se referem ao coração. É um conquistador incorrigível. Não há espécie do reino animal que lhe escape.


O que mais se fala nas redondezas é de seu romance com Miguelita. A soprano famosa veio a convite da Fundação dos Batráquios do Brasil para cantar com a Orquestra Sinfônica dos Sapos Cururus do Semiárido Baiano.


Pois, como foi noticiado pela mídia animalesca ,a situação dos sapos dessa região do país é preocupante. A escassez dos bichos mexe com o ecossistema e o meio ambiente.


As muriçocas, na sua total ineficiência, nadam de braçada . Sentem-se donas da situação.Suas turbinas barulhentas machucam os ouvidos dos infelizes que tentam dormir á noite. E suas picadas coçam e avermelham as peles dos bichanos que são obrigados a deixar o seu habitat.


Mas, o novo romance arrebatador de Genaro, fez sofrer o coração da doce jeguinha Margarida. Numa tarde nebulosa ela se foi.Não houve despedidas. Deixou apenas um bilhete para seu amado.


O jegue vaidoso e galante conquistador, chorou. Não queria magoar Margaridinha. Mas a carne é fraca ,e ele não soube resistir aos lábios vermelhos e carnudos da cantora Miguelita.


Sentimental, Genaro desabafa com o maestro Sapo Cururu Didão.


- Maestro, companheiro de guerra, me diga com toda sinceridade, é fácil resistir aquela robustez toda de Miguelita?


-???????


- E a boca com aquele batom vermelho? Hummmm. eu não resisto a uma boca daquelas, e ainda mais com batom vermelho. É de ficar doido meu irmão.


-!!!!!!!


- Didãooooo, to apaixonadoooo.


- ???!!!!!!!


-Sapão, fala alguma coisa, Até agora tu só fez foi arregalar os olhos.


O sapão passa a mão pela cabeça, pigarreia e responde meio embasbacado.


- Genaro, é que tu agora tá namorando uma sapa. E , ai ,o negoço é complicado. Tu, meu irmão é um jegue, intendeu? Olha o teu tamanho , disinfeliz. E olha o tamanho da tua nova conquista ? Como é que faiz na hora do rala e rola?Ohh coisa ruim, é impossivi. Tu tá com os miolo da cebeça fora do lugar ? Num to com pacênça com tu dessa veiz, não. Nenhuma fêma te escapa. Tu é doente.


Genaro se assenta na cadeira de balanço próxima a um imbuzeiro cheinho de umbu inhado. Dá uma olhadela em Didão que calmamente enrola seu cigarro de palha.


Poeta e sonhador, o jegue olha para o céu onde uma lua cheia toma conta da caatinga. Num meio sorriso deixa as palavras de apaixonado falarem.


-Meu maestro e irmão, só tenho a lhe responder uma coisa: eu sou doente é de paixão. Paixão pelo cheiro, sabor feminino. E tem mais mais uma coisinha. O amor quando acontece, seja ele entre qualquer espécie deste mundo de meu Deus, não tem nada que o impeça . Principamnte ,quando ele é arrebentador e bambeia as pernas da gente. Portanto, camarada,na hora do rala e rola tudo é possível.