sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Do primeiro beijo a gente não esquece.

A Praça Nova do Congresso em minha cidade natal parecia rodar. Sentia-me um pião atiçado longe a girar sem parar. A boca seca e as mãos suadas demonstram minha ansiedade.

O dia inteirinho temi por esse momento. Não adiantou as palavras tranquilizadoras de minhas primas, nem minhas tentativas de aprender a beijar usando travesseiros e laranjas.

Sonhei tanto com meu primeiro beijo e agora diante de sua realização sentia uma dor no estômago, uma bambeira nas pernas, e uma tontura que me afligia e me dava uma vontade louca de sair desembestada e adentrar na primeira casa de portas abertas que encontrasse pela frente, e ali me esconder para sempre.

O menino tão lindo de cabelos a La Ronnie Von, - príncipe do antigo movimento musical da jovem-guarda- observa-me todo desejoso.

Ele se chegava, e eu me afastava. Ele tentava segurar minha mão, e eu o repelia.

Acanhada e sonsa, fazia-me de difícil.

Sempre que passava de  minissaia pela porta do menino a La Ronnie Von ouvia seu assobio.Quando não, uma palavra graciosa, e uma piscadela sem-vergonha.

Esnobava-o a jogar minha longa cabeleira para trás após lançar-lhe meu olhar indiferente

Fiquei surpresa e irritadíssima quando soube que o danado do garoto achava lindas as minhas pernas!

Achei-o um devasso.

Senti-me ofendida. Mas o meu ser feminino vibrou, me deu uma sacudidela, e acendeu a chama da metideza. Pronto, me achei a rainha da cocada preta. A iressistível.

Um prato cheio para abusar nas minissaias e atiçar minhas armas envolventes ao menino paquerador.

Devido ao meu estúpido desdém, encontrei em uma festinha o garoto aos beijos com uma galega sarará, desbotada, e sem graça.

Eitá despeito retado!

Quase desci dos tamancos para tirar a garota dos braços do meu pretendente.

Bom foi saber que tudo não passou de armação. O garoto queria ferir o meu ego. E, conseguiu. Fiquei arriadinha pelo dito cujo.

Estava diante do meu príncipe. Não teria "escapadela". Era agora ou nunca mais!

Decidido, o garotão me pegou de jeito, e me lascou um beijo.

Meus olhos reviraram, a tontura passou, o corpo se afrouxou e me senti flutuar

Acho que fui pro céu.

Quero voltar mais não.

Eita trem bão!

Jesus me abana!




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sábado, 13 de agosto de 2011

Genaro, o jegue salvador.


A insistência de Cavalão, o jumento pega, o que se acha o máximo, irrita Afinada, a passarinha advogada.

O desinfeliz do jegue não tem desconfiômetro, e se o tem, faz-se de leso e tenta, insiste em desafiar a doutora das leis.

Desta vez Cavalão fora longe demais. Com seu poder de força muscular crescente e dominante. O jumento, fisiculturista, pensa que tudo nesta vida de meu Deus se resolve na força física.

Exibindo seus músculos, o nojento do burro açoitou Pretim. Cavalão não engolira o fato de Pretim ter lhe tirado a chance de se exibir na festa junina de Senhor do Bonfim levando em seu lombo a noiva da festa junina da cidade do melhor São João da Bahia.

Na primeira oportunidade de estar frente a frente com Pretim, o fortão feriu os brios do jumento tímido e de bom de coração a lhe apontar proconceituamente sua descendência humilde e a cor de sua pele.

Afinada enfrenta o desgraçento do animal. Desta vez o miserável sem coração não escaparia das grades. Veria o sol nascer quadrado nem que a vaca tossisse, nem que sua casa caísse, nem que qualquer outro nem ousasse a se meter em sua decisão.

Porém, o jumento casca dura tinha lá suas amizades. Para ficar tranquilo e sorridente diante das ameaças da magistrada só mesmo com proteção de um grande e abusado juiz. O juiz Urubu rei Lau Mão Santa, aquele que manda e desmanda, faz e acontece.

Mão Santa faz tudo em nome dos Santos do céu. Carrega no pescoço um grosso cordão de ouro com uma cruz enorme cravejada de brilhante. Vive a beijar a cruz.

Não existe pessoa mais devotada e santa. Justo, nobre de sentimentos, sua missão é levar paz, vida melhor para os pobres e desvalidos a qualquer custo, nem que para isso seja necessário burlar leis e usar á força. É a bondade em pessoa.
Cavalão é seu animal de confiança. Bicho pronto para lhe servir no que for necessário. Fiel escudeiro em assuntos decisivos, principalmente aqueles que exigem o uso de métodos brutais e convincentes.

Devido a seu envolvimento com o juiz urubuzão corrupto, o peste do jumento pega se safa de suas aprontações.

Afinada sabe muito bem do poder de seu companheiro de profissão, o urubu “santo”. Controlando sua indignação encara o jegue pestinhento.

- Seu Cavalão dos infernos, a tua sorte não é tua amizade com o Senhor Urubu Lau Mão Santa, e sim a bondade do coração de Pretim que não deu queixa e nem quis fazer exame de corpo de delito.

Cavalão coloca as patas na mesa da advogada folgadamente. Acende seu charuto cubano e depois de uma baforada encara a passarinha por alguns segundos, para só depois lhe responder em tom prepotente.

- Moça passarinha, tome cuidado ao me dirigir à palavra. O teu emprego vai para o beleléu, só preciso de um telefonema besta para alguém que tu bem sabe te complicar.

Engolindo seco e vermelha de raiva à passarinha abre as asas, tira os óculos e avança para Cavalão que sarcástico se esquiva, esconde-se e rola de rir.

Nesta confusão Genaro surge em socorro da amiga. Cavalão gosta, sente-se poderoso.

Genaro após acalmar a passarinha enraivecida, volta-se calmo para o ser que se julga cavalar, no seu trono de rei.

- Cavalão, meu rapaz... Pretim é meu amigo como tu bem sabes, não foi bom o que fizeste com ele. Não gostei. Sou avesso à violência, meu negócio é conversar, esclarecer. Mas, com a tua pessoa não tem conversa, tu só conhece a força....

Sem completar a frase o jegue bonitão dá um murro nas fuças do maldoso e prepotente animal que cai desmaiado na porta da delegacia para deleite da multidão que aplaude e grita o nome de Genaro.

Entre a multidão a gata dançarina do ventre lança um olhar devasso para o jegue salvador.

Tácita, a sapinha pintora, esposa do maestro sapo Cururu Didão cochicha em seu ouvido:

- Gatíssima, vê se segura Genaro, artifícios tu têm de sobra, usa-os moça!

Gatíssima suspira longamente. Seus olhos sedutores brilham ao ver o corpo generoso e belo do jegue salvador que tanto orgulha a raça jumentista.

Seus pensamentos se deliciam e ela sussurra baixinho:

- Bonitão safadinho, vou te pegar de jeito. Tu vais ser só meu danadinho gostosão!









quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Formiga Atômicaaaa.

Existem fatos na nossa vida que merecem ser recordados. Principalmente quando essas recordações nos trás à tona situações boas e por vezes hilárias.

São detalhes de um tempo ingênuo, cheio de sonhos e muita ilusão.

Estava com meus treze anos. Sentia-me meio peixe fora d’água, e tudo isso devido alguns quilos acima do meu peso ideal.

Nessa idade a ansiedade costuma tomar conta de nossos dias. E não existe nada melhor que guloseimas para aliviar as tensões.

Mas, as piores coisas nessa história toda eram os apelidos.

Isso, eu garanto, era péssimo.

Não existia coisa mais desagradável que ser chamada de bolão e baleia!


Para completar o meu tormento, foi diagnosticada na criatura adolescente, uma miopia. Agora teria que usar óculos.

Imaginem... só ? Uma baleia de óculos!

Não poderia acreditar? Parecia que tudo e todos estavam contra mim.

Escondia-me.

Sabia que seria mais uma vez motivo de gozação.

E nada parecia evitar o tão temido encontro com certas pessoinhas que adoravam me gozar.

A bestona também dava importância demais aos apelidos. Nada melhor para quem os colocava.

Eu queria morrer, sumir.

Até em sonhos era perseguida por aqueles rostos jocosos.

Era domingo, acabara de sair da igreja quando uns coros de vozes conhecidos me fizeram gelar.

Eram eles, os infelizes gozadores.

Fiquei estática, não conseguia sair do lugar.

Eles se aproximaram sorrateiros.

Olharam-me e gritaram:” Uau, a bolão virou a formiga atômicaaa!!!!! “