terça-feira, 29 de maio de 2012
A dieta de Mary Lu
Mary Lu está apática. As patinhas magrelinhas mal aguentam o peso da minha outrora cabritinha, agora uma cabrona gorda, e mãe de seis cabritinhos peraltas.
Meu avô acha que o mal de Mary Lu é a gula. A danada da cabrita come o que pode e o que não pode. E para piorar a situação, é doidinha por doces.
Sei que tenho uma culpa enorme nessa preferência da menina que criei. Todas as guloseimas dividia com Mary Lu. Resultado: a cabrona rouba bolos e compotas de doces que são feitas não só na roça do meu avô, mas nas casas do pessoal que mora nas redondezas.
A bichinha vive com disenteria. Seus cocôs - brigadeiros viraram uma porcarinhada. Não aguento nem olhar. Eca!
"Minha culpa, minha máxima culpa".
" Oh culpa cruel que deixa meu coração triste, e minha cabeça doida de tanto pesar."
"Conto-lhes um segredo: para conquistar a amizade da cabrona que fez posse de madama quando me reencontrou depois de casada com seu bodão porcão, enchi-a de balas, chocolates e suspiros, esses seus prediletos quando menina."
E se Mary Lu bater as botas por causa do excesso de gorduras ? Não vou suportar! Tenho que cuidar da minha menina gordona.
Porém, sou louquinha por doces,tortas, sorvetes, refrigerantes e suspiros!
Não sou exemplo para a minha cabrita. Sem falar que fico muito pouco na roça. E levar Mary Lu para a cidade é impossível.
Tenho que falar seriamente com Mary Lu ,mesmo correndo o risco de levar uma chifrada do seu marido bodão.
Porém, pouco me importa se levar umas furadas do bicho fedorento e feio, o que vale é convencer a minha filhinha do mal que corre.Não quero que minha eterna menina vá dessa para pior.
Agoniada, resolvi adentrar o ninho de amor de Mary Lu. O bodão me olhou enfurecido.
Eu o enfrentei corajosamente: Eu corria , o bodão corria. Eu parava, o bodão parava.
Colocava meu línguão para fora, e o danado avançava querendo me atacar com seus chifres pontudos.
Esperta me apossei de um pedaço de pau, e acertei em cheio a bundona do bode que saiu a bufar de raiva e dor.
Mary Lu nem se manifestou. Oh, cabrona que ficou metida. Parece uma rainha arrodeada de súditos que a serve e a idolatra.
A infeliz nem me olhou! Indignei-me.Fechei a cara.
Um béee manhoso e fraco se fez ouvir. Com sacrifício devido á obesidade, a cabrona se aproxima.
Passo a mão em sua cabeça, e ela logo deita em meu colo fechando os olhos.
Calmamente dou-lhe conselhos.O ronco da cabrona se ouve longe.
Já é tarde quando meu avó me encontra adormecida junto a Mary Lu.
A contra gosto volto para casa no outro dia bem cedinho.
Sei que Mary Lu ouviu um pouquinho os meus conselhos, e fará um dieta receitada pelo moço que cuida dos bichos do meu avô.
Mas, antes de entrar no carro a cabrona veio se despedir. Escondido de meu avô,dei-lhe um suspiro delicioso de despedida, afinal de contas a bichinha ia ficar muito tempo sem puder comer doces.
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