sábado, 25 de abril de 2009

Sem fantasia


Estou a escutar “Sem fantasia” de Chico Buarque. Aprecio demais a maneira como ele escreve cada frase. São perfeitas. Verdadeiro poema musicado. O vasto repertório de Chico tem músicas e letras maravilhosas. Se fosse citar todas que gosto me demoraria demais. Por isso me detenho apenas em uma delas.


A música “Sem fantasia” é como se fosse uma filha minha. Tenho tanto carinho por ela, afeição, que chega a ser maternal mesmo. Sua letra é delicada, suave. Fala do amor de uma forma singela ao mesmo tempo em que a paixão domina o letrista, tornando-o escravo dessa paixão. Ele clama ao seu menino vadio que volte sem fantasias, mentiras, que ele volte simplesmente, sem apelos nem dor.


Ele o quer de volta de qualquer maneira. Fraco, tolo, que volte inteiro, totalmente seu. Nossa, que amor arrebatador, chega a arrepiar! E tem um contraponto lindo.Observem um pouco: ”ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar, não vou me arrepender, só vim te convencer, que eu vim pra não morrer de tanto te esperar....”


A melodia aliada à letra é simplesmente maravilhosa.Uma verdadeira obra prima do grande Chico Buarque. E é com muita honra que lhes digo que essa foi à primeira música que cantei em público. Tinha apenas treze anos e a responsabilidade de cantar uma música de um dos ícones da música brasileira. E ainda fazendo contraponto!


Era sábado. A AABB estava cheia. Tio João tentava conter minha ansiedade. Nem meu pai sabia desta minha estréia. Meu coração batia descompassado. Não me contive e fui ao banheiro uma dezena de vezes. Sentia um calor, um desconforto, um não sei o quê? A vontade era de desistir. Meu tio sorria-me confiante.


Pronto, chegou o momento. O chão parecia sumir. Fui andando apressadamente. As pernas estavam tremulas. Minhas mãos suavam. Meu tio deu a introdução. O silêncio reinava no clube. Todos os rostos se voltaram para nós.. Ele me olhava, eu olhava pra ele com um sorriso fraco, sem graça. Pedia socorro. A dor na barriga apertava. Não podia mais fugir.


Ele deu a introdução mais uma vez. Fechei os olhos. Deixei-me levar pelas notas da melodia de Chico. Respirei. Meu coração foi acalmando. Minha voz saiu calma, sem tremer. Conseguira vencer a emoção. Abri os olhos e sorri. As pessoas me olhavam carinhosamente. Logo vieram as palmas.


Meu pai emocionado se arrepiava, ia a lágrimas. Fiquei feliz. A minha voz fluía. Assim que terminei, pediram bis. Cantei mais uma vez junto ao menino que Chico me emprestara naquele dia e fazia a minha fantasia virar realidade.

Um comentário:

marcia disse...

Eu imagino essa cena toda!kakakakakakakakakaMais não me lembro como é essa musica!vou correndo procurar,rsrsrs.Serio agora!Estou adorando seus textos,bem escritos,leve e engraçados.Parabéns! sua fã incondicional!