segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sandra Bolão e seu noivo Lulinha Cabeção.


Tentava entrar naquela carroça minúscula toda enfeitada de bandeirolas. Parecia mais uma gaiola cujos pombinhos juninos iam para o casório na quadrilha da rua em que moravam.

Vestida de noiva, ajeitei mais uma vez as flores de cores berrantes que enfeitavam minha grinalda cor de carmim.

O vestido rodado de chita branca com estampas em grená e detalhe em rendas brancas, me deixava mais rechonchudinha – o início da puberdade fora um problema para mim. Os hormônios em erupção me deram alguns quilinhos e logo sofri com o infeliz apelido de Bolão que me acompanha, podem crer, até hoje!

Umas ceroulas quadriculadas completavam o meu traje de noiva jeca.

Era na verdade uma caricatura de noiva. Uma verdadeira piada.

A boca de um vermelho vivo competia com minhas bochechas.

As sandálias brancas ostentavam meias arrastão pratas, purpurinadas. Vi-me uma autêntica alegoria carnavalesca criada por Joãosinho Trinta.

Deram-me o nome de Chifrionésia ,a noiva chifruda que, loucamente apaixonada se contentava com seu destino de besta de carteirinha.

Sempre desejei ser noiva de quadrilha. Gostava de me “amostrar”. Era mesmo a exibida da Avenida Salvador, lá em Senhor de Bonfim.

Com um corpo já a detalhar a mulher que viria - embora gordinha, a pré-adolescente já se achava “uma moça”!

Metida, não gostou nada da escolha do noivo; um certo tampa de “binga”, assanhado e que possuía uma cabecinha um tanto grande para o tamanho do corpo.

O apelido do pequeno noivo não podia ser outro: Chamava-o de Lulinha Cabeção .E para desgosto da noiva logo foi criado o slogan da quadrilha: “Venham todos apreciam o casório de Lulinha Cabeção com a sua noiva Sandra Bolão”.


A noiva caricata já conhecia seu pretendente a marido de longa data. Eram companheiros nas brincadeiras infantis. Lulinha, sempre arranjava um jeitinho de ficar perto da menina que se sentia moça, nas brincadeiras. Tinha por ela uma grande simpatia.

Ela até que gostava do amigo, mas achava-o pirralho e bobo demais. Os dois tinham a mesma idade, mas o danado do Cabeção não amadurecia. E isso irritava e cansava a menina que já era moça!

Lulinha usava um terno xadrez cor de rosa. Na cabeciiiiinhaaa um chapelão maior que seu tamanho e que o tamanho da sua cabeça! Mal dava para ver o rosto do noivinho que teimava em abraçar a sua futura esposa, que a todo tempo se esquivava dos abraços calorosos de seu noivo enamorado.

Todos sabem que na pré adolescência acontecem modificações nos corpos infantis como um todo. Os hormônios além de nos engordarem fazem uma confusão danada com os neurônios. A meninada sofre horrores com a perda do seu mundinho lúdico e feliz.

Ao final do casamento de mentirinha me livrei do noivo indesejado, e com ares de paquerador.

Acreditam que o danado teve a ousadia de me pedir em namoro?

Nunquinha que iria deixar as despeitadas das minhas colegas se aproveitarem da nova situação para jocosamente me chamarem de Bolão, a namorada do Cabeção.

3 comentários:

Nayara Borato disse...

Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Nayara e cheguei até vc através do Blog mundo suspenso. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir um blog do meu amigo Fabrício, que eu acho super interessante, a Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. A Narroterapia está se aprimorando, e com os comentários sinceros podemos nos nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs





Narroterapia:

Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.



Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.

http://narroterapia.blogspot.com/

Vixe Mainha disse...

Nayara, bom ver você em meu blog. Claro que visitarei o seu e o segurei. Vamos aderir á narroterapia,pois atrvés dela colocamos para fora nossos sentimentos.
Abraços.

Lau Milesi disse...

Olá, com licença. Amei sua prosa. Interessante que há "apelidinhos" que ficam pra sempre.

Quando eu era menina , sempre me chamavam de "Lau, a varapau". E eu na minha adolescência fazia dieta de engorda, pode isso? :) Sempre fui alta e magrinha. [rs] Hoje em dia é só Lau, ainda bem... Embora ainda seja magra,ganhei uns quilinhos com a idade. Aliás,bem que poderiam desaparecer. :) Um abraço e parabéns pelo blog.