domingo, 18 de setembro de 2011

Genaro: coração cheio de dor.


Os dias passam apressados. A primavera se anuncia. As” fulô” dos mandacarus se vestem, se enfeitam para em poucos dias alegrar o semiárido com sua beleza natural.

Genaro sente um desconforto com a sangria desatada do tempo que passa e não o deixa decidir o que fazer de sua vida.

Suas decisões são sempre adiadas. A súbita apatia do jegue bonitão fora causada pela notícia vinda do Maranhão.

Margaridinha, a jumentinha meiga, o amor de sua vida marcara casório.

Desde que soubera do enlace da jumentinha, o jegue namorador murchou tal qual flor não regada. Faz dó ver o semblante caído do Don Juan do sertão.

Seu amor pela jumentinha é verdadeiro. Seu coração cheio de dor chora.

Nem a provocante gatíssima com seus olhos verdes envolventes, consegue diminuir a tristeza que embala o coração do seu jegue gostosão.

A gata dançarina sente-se abandonada. Uma súbita raiva de Margaridinha lhe consome o juízo.

Chorosa, desabafa com a sapinha Tácila, sua amiga, confidente, e mulher do Maestro sapo curruru Didão:

- Amiga sempre tive todos os bichos a meus pés. Estou irritadíssima! O que essa jumenta tem que eu não tenho?

Tácila observa a gata. Sabe que a pouca idade da gata lhe faz falar bobagem demais.Não sente nenhuma vontade de escutar lamúrias de gatas inexperientes e de cabeçinhas ocas.

Vira-se para a tela e calmamente continua a pintá-la para desespero da gata esnobe.

Gatíssima se magoa. Esperneia, faz barraco, mia doidamente.

A sapinha pintora resolve dar um jeito na histeria de gatíssima. Levanta=se e lhe dá uma chapoletada nos focinhos que a gata cai esparramada no chão da sala derrubando tintas e cavaletes.

Semifusa e Quartifusa, as filhinhas gêmeas de Tácila entram esbaforidas. Boquiabertas olham a gata suja de tinta com o corpo grudado no chão.

As duas se entreolham e riem da situação da gata.

A confusão é tamanha e a melação mais ainda!

Tácila levanta a amiga que chora e mia grudada na sapinha que se sente sufocar.

Quanto mais chora mais aperta a pobre da sapinha que vai perdendo a cor.

As filhinhas apavoradas tentam tirar a mãe das mãos da gata apaixonada.

Agora as quatro se juntam de tal forma que fica difícil separá-las.

As sapinhas berram, a gata mia enquanto Tácila é mais e mais estrangulada...

Eis que de repente a porta se abre e Genaro entra. Cavalheiramente, o jegue desfaz o laço maluco em que se meteram sua gata louca e as pobres das sapinhas.

Gatíssima cai em seus braços dramaticamente, e o beija com sofreguidão.

Mais do que depressa Tácila sai com suas filhinhas deixando o casal a sós.

Genaro afasta delicadamente gatíssima.

A gata se aninha em seu peito forte.

O jegue acaricia o pelo macio da gata roliça.

Sente carinho pela menina inconsequente.

Não queria que gatíssima tivesse se apaixonado. Sente-se responsável pela pequena desvairada.

A gata olha-o, seus olhos verdes cheios d’água corta o coração do jegue.

Com carinho limpa as lagrimas que teimam em cair.

Gatíssima confidencia dengosa:

- Eu amo tu, Genarinho!

O jegue a abraça com força. Seus corações pulsam. Seus corpos se unem.

Genaro fecha os olhos e sente o perfume de Margaridinha. O seu coração aperta dentro do peito de saudade da jumentinha. Seu grande erro fora deixá-la partir. Mas o seu ímpeto de querer o cheiro de todas as meninas que lhe cruzam o caminho acabara machucando o coração do amor de sua vida.

Sente Gatíssima suspirar. A gata dançarina é apenas uma menina. Aos poucos vai ter que fazê-la entender que o amor que ela diz sentir por ele é mais uma paixão passageira. A vida sentimental dela estava se iniciando. Ela tinha muito a aprender.

Mesmo com o coração partido Genaro gostava de ensinar os segredos do amor para suas conquistas.

Nossa, nunca vi jegue tão amoroso!

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