terça-feira, 8 de novembro de 2011

Meu reencontro Com Mary Lu


Sentei-me embaixo da cajazeira para observar Mary Lu e seus cabritinhos. Minha cabritinha de estimação agora era mãe zelosa, acolhia seus meninos com lambidas carinhosas.

Um carinho imenso tomou conta do meu coração. Aquela cena amorosa me fez recordar a cabritinha desengonçada que berrava para entrar em meu quarto e se enroscar em meus braços.

Fiquei um tempo sem ver minha cabritinha. Sabia que se a visse não resistiria e a traria de volta comigo. Faria pirraça e convenceria meu avô.

Deixei o tempo passar. Meu avô até se surpreendeu com minha atitude. Achou que eu tivesse me esquecido do meu animalzinho.

Como gente grande é boba. No meu coração Mary Lu estava mais presente do que nunca. Criança quando gosta não se esquece de quem gostou.

Acordei naquela manhã com o estômago revirando. Assustada e enjoada gritei para meu pai me acudir.

Paciente e carinhoso meu painho me abraça.

Com a voz entrecortada desabafo:
- Paiiiii, eu sonhei que eu comia a Mary Lu com arroz e feijão!

Meu pai ri. Séria, repreendo-o.
- É muito triste comer quem a gente gosta mesmo que seja de mentira!

Depois daquele sonho não dei sossego a meu avô. Queria ver Mary Lu. Certificar-me que a minha cabritinha não teria ido parar na panela de ninguém.

Aliviada volto meu olhar para Mary Lu. A ex-cabritinha, agora cabritona e mãe não me dera atenção. Confesso que fiquei incomodada. Mas, o que mais me interessava era vê-la a salvo de virar ensopado.

Fiz meu avô me prometer que isso nunca aconteceria. Queria que Mary Lu visse seus filhos crescer e que fosse avó.

Satisfeita com a promessa do meu avô fui até a cabrona – mãe me despedir.

Passo levemente a mão pela cabeça do animal que sossegado solta um bée macio. Sorrio e ajoelho-me para melhor lhe acariciar. Os cabritinhos resmungam, começam a berrar. Não gostavam da minha presença. Resolvo então, acariciá-los também.

Que ideia desastrosa!

Ao longe avisto um bodão em disparada.

Esperta, consigo correr a tempo de não ser atingida pelos chifres do marido de Mary Lu.

Fiquei com raiva do bodão valentão. Quem ele pensava que era para agir dessa forma com a pessoa que cuidara de sua esposa? Ele sim deveria virar ensopado.

Não gostei nem um pouco daquele animal fedorento e metido a brigão.

Grudada a meu avó fazia caretas para o bicho de cara emburrada.

Desolada entrei em casa. Meu pai ficou sem entender.

Dessa vez não quis conversa. Não queria falar nada nem com ele nem com ninguém.

Na verdade é que eu não queria que Mary Lu tivesse crescido.

Em meu coração ela continuava aquela cabritinha desengonçada que procurava abrigo em meus braços. E era assim que eu a queria...!

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