quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Meu pedido a Deus na Noite de Natal.





Emburrei-me. Meu cenho se franziu. De nariz empinado retruquei:

- Papai Noel existe sim seus caras de chulé.

A meninada debocha da menina que acredita que o Papai Noel lhe trará mais presentes neste Natal.

- Bobona, o teu Papai Noel não existe mais mesmo. Pode esperar a noite inteirinha que ele não vem. Esqueceu que não tem casa nem família?

Enfureci-me. Voei nos cabelos de Maria Sardenta, a menina grandalhona e com fama de valente.

A “brutamonte” não tinha papas na língua. E, a menina ousada, ferida no mais fundo de sua alma não conseguia conter sua revolta. Tinha que dar uma lição na monstra e faladeira dos infernos.

Rolamos no chão enlameado pelas chuvas dos últimos dias. Viramos moleques de barro dando espetáculo para a meninada que fazia uma arruaça daquelas.

Apesar de minha magreleza aparente, sabia me defender das unhadas e “coques” atrapalhados da menina- gigante.

Ágil, grudei-me ás costas da sardenta e lhe dei uma mordida no pescoço gordo. A fortona deu um berro. Dei um pulo e corri sem destino.

Queria sumir. Ir embora, encontrar minha casa, minha mãe, meu pai e meus irmãos.

Uma dor vinda de não sei onde tomou conta de mim.

Suja de lama me encolhi debaixo de uma árvore num terreno baldio amontoado de mato e lixo.

Senti-me um animal que acabou de se separar de sua família.

Abracei-me e chorei.

Na minha cabeça passa um filme que me aperta o coração.

Era manhã. Acordei com gritos desesperados e cheios de dor vindos do quarto de meus pais.

Aturdida coloquei meu travesseiro entre os ouvidos para abafar aqueles gritos que eu não queria ouvir.

Depois veio um silêncio inquieto e longo.

Descalça, e de camisola, levantei-me levando comigo meu travesseiro.

Arrastando-o fui conduzida a casa de minha tia.

Desse dia em diante meus natais não mais existiram com a minha família.

O meu Papai Noel bem que se esforçou, mas não conseguiu mais mentir a sua não presença em minha vida.

Saio debaixo daquela árvore que me deu afeto silencioso.

Ando a passos largos. Preciso tomar banho. Ficar bonita e cheirosa para a noite que se aproximava.

E essa noite era uma noite especial. Era a noite de Natal!

Abro um sorriso e grito para mim, para o céu, para Deus: “Só por hoje Paizinho do céu traz mesmo que de brincadeirinha o papai, a mamãe e meus irmãozinhos para mim. Faz eu acreditar que isso, essa brincadeirinha é de verdade só um tiquinho, por favor”!

Há uma interrogação em mim.

Olho o céu mais uma vez e complemento minha conversa com o Senhor do Universo.

“Paizinho do céu, eu aceito só sonhar... viu?”

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